Enquadramento

A Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) tem vindo a promover, de forma descentralizada, as Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental em Portugal, com periodicidade anual e temáticas diversificadas. Em 2023, Manteigas é o local escolhido para receber este evento de âmbito nacional, numa parceria entre a ASPEA e a Câmara Municipal de Manteigas.

As XXIX Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental subordinadas ao tema “Educar para uma gestão integrada dos territórios rurais” contam com um programa preenchido por diversas conferências, painéis, apresentações curtas, oficinas pedagógicas, apresentação de livros e revistas, stands e saídas de campo com ações de intervenção no terreno.

Na presente edição das Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental, tendo em conta que ao nível europeu se elaboram estratégias para a floresta, biodiversidade, importa reforçar igualmente as estratégias de Educação Ambiental, discutindo novos instrumentos políticos e iniciativas que promovam o restauro e regeneração da natureza.

Estas jornadas propõem uma reflexão sobre a gestão das florestas para que as comunidades ricas em biodiversidade sejam valorizadas pelas suas riquezas naturais e compensadas por manter os serviços de ecossistema provenientes das florestas e espaços rurais, e sobre a urgência em promover uma educação para o risco e para o ambiente. As jornadas serão um palco de aprendizagem e de sensibilização, no qual todos poderão conhecer, aprender e atuar.

Desta forma pretende-se levar os participantes a refletir sobre o seu papel na valorização e preservação dos espaços florestais e a refletir que os problemas que não se resolvem em gabinetes e salas. É necessário ir para o campo, conhecer, aprender e atuar, para que se potencialize e torne mais efetivas as ações de prevenção de incêndios através da conservação e valorização dos espaços rurais. Por tudo isto, o programa das XXIX Jornadas inclui visitas aos espaços rurais da serra da Estrela, durante as quais os participantes terão a oportunidade de experienciar o que este território tem para oferecer e constatar os efeitos devastadores dos incêndios..

A ASPEA tem vindo a alertar e a promover o debate em torno das florestas tanto a nível municipal e nacional, como a nível internacional. Tem desenvolvido várias ações de voluntariado ambiental para as florestas e foi parceira nos últimos anos de três projetos Erasmus+ de grande impacto socioeducativo. É de destacar o envolvimento dos jovens na promoção das árvores e das florestas e no empreendedorismo florestal, a reflexão sobre o conceito da floresta modelo mediterrânica e a sua promoção em Portugal e o alerta sobre a necessidade de se aumentar a capacidade dos cidadãos europeus para enfrentarem os desafios atuais das florestas.

Cada vez mais vivemos um paradigma dos “alimentos mais baratos” (sistema agroalimentar dominante), com o objetivo de produzir o maior número de alimentos, ao menor custo possível, e onde impera o consumismo como forma de vida, incluindo de alimentos. Este paradigma de produção e de dieta, como sendo uma “construção social” (influenciada por exemplo, pela publicidade) ilustra o afastamento do ser humano aos seres para além dos humanos (“more than human”) e tem levado a inúmeras consequências socioambientais.

Práticas insustentáveis como monoculturas agrícolas e agropecuárias, uso e abuso de agrotóxicos/fitosanitários tem levado a uma redução drástica da biodiversidade, incluindo variedade de paisagens e habitats, que põem em risco a reprodução, alimentação e/ou nidificação de aves, mamíferos, insetos e outros organismos. Estes sistemas agroalimentares levam, a médio e longo prazo, ao aumento de doenças e pragas nas culturas, falta de produtividade, problemas de saúde pública (alimentos menos saudáveis) e subida de preços. Além disso, o sistema alimentar mundial é um dos principais responsáveis pelas alterações climáticas, sendo responsável por cerca de 30% do total das emissões de gases com efeito de estufa.

Estes sistemas de produção e distribuição não consideram os processos de desertificação dos territórios (ex. no interior de Portugal) e a migração do Sul-Global para o Norte-Global (ex. refugiados climáticos), pelo que é urgente trazer o debate sociopedagógico sobre conceitos e práticas de “Soberania Alimentar”, “Economia política da comida”, “Equidade interior/rural litoral/urbano”, através de políticas agrícolas e alimentares justas; da produção de alimentos saudáveis e localmente adequados (cadeias de valor curtas da produção ao consumo); da reflexão crítica sobre tipos de alimentos a preferir (ex. proteína animal vs. vegetal); acessibilidade aos bens comuns e desperdício alimentar.

Neste âmbito torna-se urgente uma articulação entre as políticas educativas e outros instrumentos como o Programa de Valorização do Interior que fomenta o combate às desigualdades e coesão territorial, através de uma estratégia integrada de desenvolvimento regional e de valorização dos territórios do interior, em consonância com o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território.


Eixos Temáticos

Os conteúdos abordados estão distribuídos por quatro eixos temáticos:

  • Eixo 1 - Educação Ambiental na prevenção de incêndios florestais e restauro dos ecossistemas;
  • Eixo 2 - Educação Ambiental e Participação Social na valorização dos territórios rurais;
  • Eixo 3 - Educação Ambiental e modelos de gestão integrada nas estratégias municipais de adaptação às alterações climáticas;
  • Eixo 4 - Educação Ambiental nas práticas agroflorestais como promoção da floresta e combate ao despovoamento (êxodo rural).


Estes quatro eixos estão assentes em cinco princípios:

  • Conhecer o verdadeiro impacto na biodiversidade pelas perdas de floresta - todas as atividades humanas têm impacto no espaço que nos rodeia. É importante perceber a origem dos materiais que adquirimos e como cada fase do ciclo de vida de um produto tem impacto nos ecossistemas. Através da alteração dos modos de produção e consumo, numa perspetiva de economia circular será possível reduzir a nossa pegada ambiental na natureza ou, mesmo, ter um efeito positivo;
  • Planear e decidir em conjunto - os decisores políticos devem envolver todos os atores sociais nos processos de decisão política para que toda a sociedade se possa apropriar dessas mesmas políticas e sentirem-se parte da solução na construção de sociedades ambientalmente responsáveis e socialmente justas;
  • Aprender com a natureza e com a ciência - a interação entre o conhecimento científico e o empírico permite o desenho de políticas inovadoras e integradas que são essenciais para o equilíbrio entre as necessidades humanas e do Planeta. Na maior parte das vezes a natureza tem a resposta para os vários problemas ambientais, é preciso observar, testar e investigar para aperfeiçoar as soluções;
  • Valorizar os espaços florestais - os espaços florestais não podem ser dissociados dos restantes espaços agrícolas e pastoris. É esta interação e equilíbrio que nos permite beneficiar dos seus bens e serviços do ecossistema, garantindo a preservação da biodiversidade em que Portugal pertence ao hot-spot para a biodiversidade no Mediterrâneo;
  • Educar para a justiça socioambiental nos territórios rurais - muitos dos atuais problemas ambientais acontecem longe da vida quotidiana do cidadão urbano. É importante reivindicar uma maior proteção ambiental e social de populações mais vulneráveis, nomeadamente de comunidades periféricas e rurais, que estão mais expostas a riscos ambientais.


Objetivos

  • Promover a troca de experiências, de conhecimentos e de boas práticas visando a cooperação em Educação Ambiental a nível nacional e internacional;
  • Atualizar o conhecimento sobre a temática das jornadas para a ação;
  • Partilhar os âmbitos de participação das instituições públicas, das empresas e da sociedade civil nas políticas locais como contributo para a gestão dos recursos naturais e valores rurais;
  • Facilitar a participação dos jovens e o acesso à informação, em matérias de defesa do ambiente e políticas públicas de Educação Ambiental;
  • Divulgar projetos e atividades de investigação, de inovação, de cooperação e desenvolvimento que estejam relacionadas com os eixos temáticos das Jornadas;
  • Valorizar a partilha e otimização de recursos e experiências e o desenvolvimento equilibrado dos territórios rurais;
  • Promover o desenvolvimento integrado e ambientalmente justo dos territórios rurais;
  • Educar para a necessidade de preservação da biodiversidade e valorização os territórios rurais;
  • Educar para a emergência climática e mitigação a partir de sistemas agroalimentares,
    dieta e eficiente gestão agroflorestal.


Destinatários

Professoras/es e Educadoras/es de Infância, Educadoras/es Ambientais, Estudantes, Técnicas/os de ONG e Autarquias, Investigadoras/es, Atores Políticos, Jovens e Estudantes, atores do mundo rural e representantes de organizações que atuam na gestão da floresta e territórios rurais.