Enquadramento
O presente encontro surge como uma oportunidade ímpar de unir dois eventos significativos na área da Educação Ambiental em Portugal: o XVI Encontro Regional de Educação Ambiental (EREA), evento bienal que se realiza nos Açores, e as XXXI Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental (JPEA), que decorrem em Portugal Continental.
Esta sinergia visa ampliar a discussão e o envolvimento em torno da educação ambiental, promovendo um intercâmbio enriquecedor de experiências e saberes entre os participantes das diversas regiões do país.
O Encontro terá como tema central a geodiversidade, enquanto ponto de partida para a discussão de outros temas como a gestão de recursos naturais, as alterações climáticas, a gestão dos riscos geológicos e a geodiversidade no contexto dos serviços dos ecossistemas.
Daremos início ao programa do encontro no dia 27 de setembro, assinalando o 68.º aniversário da erupção do Vulcão dos Capelinhos. Este foi um evento histórico que moldou a paisagem natural, cultural e social da ilha do Faial e contribuiu para a ciência no panorama mundial, tendo sido integrado na lista dos primeiros 100 sítios de interesse geológico da IUGS (International Union for Geological Sciences).
Memória da Terra: um farol na educação ambiental
A memória da Terra refere-se a eventos passados que afetaram o nosso planeta e que se encontram impressos nas rochas e na paisagem. Esses registos são como um livro aberto que nos permite compreender a história da Terra, os processos da dinâmica do planeta, as alterações climáticas, a evolução da vida e dos ecossistemas e a interação entre os processos naturais e a vida humana. Conhecer este passado permite-nos preparar melhor o futuro.
É na geodiversidade que encontramos a resposta. A geodiversidade corresponde à diversidade de materiais (rochas, fósseis, minerais, solos e água), estruturas, formas de relevo e processos geológicos (Brilha et al., 2018) – a natureza abiótica que sustenta a vida, as sociedades e o bem-estar humano. É nesta face oculta do património natural que centramos o tema do Encontro Regional de Educação Ambiental e Jornadas Pedagógicas da Educação Ambiental, com o objetivo de sensibilizar e capacitar os professores e profissionais na área da educação ambiental para a importância da geodiversidade enquanto elemento-chave na construção de uma sociedade mais consciente e preparada.
A memória da Terra deve ser um farol na construção de um mundo onde a ciência, a educação e a conservação da natureza caminham juntas.
Objetivos gerais
- Promover a troca de experiências, de aprendizagens e de boas práticas, visando a cooperação em Educação Ambiental a nível nacional e internacional;
- Atualizar o conhecimento sobre os diversos eixos temáticos das jornadas nos campos socioambiental e político;
- Conhecer os âmbitos de participação das instituições públicas, das empresas e da sociedade civil nas políticas locais como contributo para a governança e a construção de territórios saudáveis;
- Facilitar a participação dos jovens e o acesso à informação em matérias de defesa do ambiente e políticas públicas de Ambiente e Educação Ambiental;
- Divulgar projetos e atividades de investigação, de inovação, de cooperação e desenvolvimento que estejam relacionados com os eixos temáticos.
Destinatários
Para docentes, técnicos de ambiente, empresas, ONGAs, autarquias, estudantes, investigadores e outros profissionais ou interessados na área da educação ambiental.
Contexto geográfico
Os Açores, o Faial e o Vulcão dos Capelinhos
As ilhas dos Açores constituem um arquipélago edificado numa zona geológica extremamente complexa, com características únicas em termos de geodinâmica terrestre, o que lhes atribui um carácter ativo, nomeadamente no que se refere ao vulcanismo e à sismicidade.
As distintas condições ecológicas, mesmo entre as diversas ilhas, possibilitam uma riqueza paisagística única no mundo. A vegetação natural contém uma das últimas e mais velhas florestas virgens da Europa, a floresta Laurissilva. Em termos faunísticos, são os artrópodes que constituem o grupo com maior diversidade nas ilhas. Visto como um símbolo do Arquipélago, importa salientar a única espécie endémica de mamíferos: Nyctalus azoreum (morcego dos Açores).
Para preservar tão precioso tesouro natural, foram criados os Parques Naturais dos Açores, a Unidade de Gestão das Áreas Protegidas, integrando em cada ilha as áreas classificadas, numa gestão orientada para a sua conservação, bem como para a utilização sustentável dos recursos naturais, de forma a potenciar o turismo e o bem-estar das suas comunidades.
As estruturas de promoção e interpretação ambiental dos Parques Naturais de Ilha dos Açores englobam 124 áreas protegidas (terrestres e marinhas), classificadas de acordo com a nomenclatura da IUCN, e incluem a Rede Regional de Centros Ambientais, com 19 estruturas visitáveis, trilhos e circuitos interpretativos pedestres, miradouros, casas e outras infraestruturas de apoio, em cada ilha do Arquipélago, permitindo dar a conhecer o valioso património natural açoriano e a importância da sua conservação, proteção e valorização.
Pela sua extrema riqueza biológica e geológica, este Arquipélago possui um vasto leque de classificações, nomeadamente 121 geossítios que integram o Açores Geoparque Mundial da UNESCO, 13 Zonas Húmidas ou Sítios Ramsar, quatro Reservas da Biosfera (Flores, Corvo, Graciosa e Fajãs de São Jorge), dois sítios Património da UNESCO (Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e Centro Histórico de Angra do Heroísmo), IBA’s (Áreas importantes para as Aves e Biodiversidade) e áreas integradas na Rede Natura 2000.
Parque Natural do Faial
O Parque Natural do Faial, criado em 2008, está repleto de paisagens arrebatadoras, aves e plantas únicas e formações geológicas emblemáticas. Tem como missão a conservação deste património natural e a preservação da herança cultural de uma longa história de convivência entre o Homem e a natureza.
A sua diversidade é alvo de admiração e fascínio por parte dos seus visitantes, englobando três Reservas Naturais, um Monumento Natural, duas Áreas de Paisagem Protegida, quatro Áreas Protegidas para a Gestão de Habitats ou Espécies e quatro Áreas Protegidas de Gestão de Recursos.
Abrange também várias áreas da Rede Natura 2000, um Sítio Ramsar ao abrigo da Convenção Ramsar e seis geossítios prioritários do Açores Geoparque Mundial da UNESCO.
De forma a proporcionar uma visita de qualidade aos seus visitantes, o Parque Natural dispõe de quatro centros ambientais: o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, o Jardim Botânico do Faial, a Estação de Peixes Vivos - Aquário de Porto Pim e a Casa dos Dabney; uma casa de apoio, a Casa do Cantoneiro, e, para além de dez trilhos pedestres, tem ainda dois circuitos interpretativos e um circuito de BTT.
Em 2011, o Parque Natural do Faial foi considerado pela Comissão Europeia um Destino Europeu de Excelência (EDEN), sendo o único local em Portugal a obter este galardão, cumprindo, assim, uma promessa de sustentabilidade social, cultural e ambiental.
Também nesse ano, o Jardim Botânico do Faial recebeu a Menção Honrosa na categoria “Requalificação de Projeto Público” dos prémios do Turismo de Portugal.
No ano seguinte, a Paisagem do Vulcão dos Capelinhos obteve o 2.º lugar no Prémio Paisagem Nacional 2012, atribuído com base na implementação de políticas e medidas de proteção, gestão e/ou ordenamento da paisagem.
Em 2013, o Parque Natural recebeu uma Menção Honrosa na categoria “Community Building” nos EDEN Innovation Awards, que diferenciam destinos europeus de excelência pelas suas iniciativas nas áreas de marketing, desenvolvimento local e coesão social.
Em 2016, os Açores ficaram entre os cinco melhores destinos europeus, no seguimento da votação concretizada pela European Best Destinations (melhores destinos europeus) e o Faial foi considerado um dos melhores tesouros escondidos da Europa (hidden gems). O Parque Natural ganhou o prémio na categoria “Nature Experience” nos EDEN Innovation Awards com a experiência da descida à Caldeira.
Vulcão dos Capelinhos
Com cerca de 125 hectares, este Monumento Natural estende-se desde as rochas basálticas da ponta sudoeste do cais do Porto do Comprido até ao Costado da Nau.
Foi classificado em função dos seus valores estéticos e naturais, designadamente a singularidade geológica e a biodiversidade associadas a espécies e habitats protegidos, bem como da expressiva componente cultural e histórica da erupção do Vulcão dos Capelinhos.
A evolução natural da paisagem deve-se à presença de elementos geomorfológicos de elevada representatividade, bem como à possibilidade de observar diferentes produtos vulcânicos das diferentes fases eruptivas.
O Vulcão dos Capelinhos tornou-se um marco histórico a nível vulcanológico, quando, entre 27 de setembro de 1957 e 24 de outubro de 1958, ocorreu uma erupção no mar, a cerca de um quilómetro da costa noroeste da ilha do Faial, a uma profundidade máxima de 60 metros. Durante os 13 meses de atividade, este vulcão teve duas fases distintas: a submarina, caracterizada por grandes explosões com emissão de jatos de cinza, colunas de vapor de água e outros gases; e a subaérea, com a projeção de piroclastos de maiores dimensões e emissão de escoadas lávicas.
A acumulação dos 174 milhões de m3 de material emitido e dos 2,4 km2 de área criada, levaram à criação das chamadas “Terras Novas”, uma paisagem lunar que se erguia até aos 160 metros de altura. Com o fim da erupção, iniciou-se, de imediato, um novo processo de alteração e destruição da paisagem, em resultado da ação dos agentes erosivos.
O Vulcão dos Capelinhos e Costado da Nau é um geossítio de relevância internacional do Açores Geoparque Mundial da UNESCO e esta área está integrada na Zona de Especial Conservação (ZEC) e na Zona de Proteção Especial (ZPE) da Caldeira e Capelinhos, no âmbito da Rede Natura 2000.